UM BLOG PEDAGÓGICO E CULTURAL A SERVIÇO DE ESTUDANTES, PROFESSORES, PESQUISADORES E INTERESSADOS EM GERAL.



sexta-feira, 20 de novembro de 2009

SEGUNDOS ANOS - texto para prova bimestral - 4º bimestre.

.
Arnaldo Jabour, carioca de 69 anos é uma personalidade eclética. Cineasta, jornalista, escritor, cronista e comentarista político, crítico de arte, produtor cultural, Jabor tem um estilo forte, impactante. Impossível não prestar atenção em seus trabalhos, sempre muito polêmicos.

Segue a transcrição de uma crônica de Arnaldo Jabor, que foi ao ar pela rádio CBN no dia 13 de outubro de 2009. Nela, Jabour tece toda uma análise da conjuntura brasileira da atualidade, pontuando quais as forças de esquerda, direita e centro que estão em jogo no momento, ironizando as estratégias e alianças políticas.

ADVERTÊNCIA – o texto de Arnaldo Jabour não necessariamente reflete a opinião do professor ou do Colégio Anchieta. Seu objetivo é lançar elementos para o exercício da análise crítica.

Política é a arte do “possível”.

Amigos ouvintes, todos nós sabemos que a política é a arte do possível, que para ser eleito é preciso abraçar possíveis aliados, é preciso engolir sapos, e comer muita buchada de bode, não só do bode real, mas também dos bodes pretos que infestam o país.
Tudo bem, a vida é dura e a política também.
Mas neste governo existe uma visão de alianças que vai muito além da medida. Há certas alianças que desqualificam o candidato.
Vimos há pouco tempo Lula sorrindo para o Collor, vimos Sarney também fazendo a mesma coisa, e no próximo ano, por causa da obsessão de Lula de eleger sua candidata Dilma Roussef, veremos cenas difíceis de acreditar. Dilma é uma invenção do Lula e ele vai jogar tudo em sua candidatura, ao lado dela em todos os palanques.
Tudo bem, direito dele também.
Ele vai tentar elegê-la pela comparação entre o seu governo e o de Fernando Henrique Cardoso... claro que escondendo ao máximo que toda a estrutura da economia atual, as leis de responsabilidade fiscal, e até o bolsa família foram inventados no governo anterior.
Até aí também tudo bem porque faz parte do jogo de mentiras e verdades que a política exige.
Mas o que choca é que há neste governo um certo prazer... meio sádico. Há uma volúpia em fazer alianças repulsivas e fazer alianças além do nosso escândalo. Estas alianças com inimigos ou com pessoas de baixo calão são feitas por dois motivos, além do interesse político: primeiro, com oitenta por cento de votos o Lula acha que pode tudo. Além disso, há um prazer parecido com a época do mensalão. Há um prazer em ir além daquilo o que eles chamam de corrupção burguesa ou falta de ética burguesa. Isso, eles pensam: nós somos a favor de uma revolução no futuro (que eles não sabem qual é); nós somos bons, nós somos o sal da terra, logo, nós podemos pecar porque nós já nos perdoamos antes, nós somos santos a priori, autoabsolvidos.
Assim, o governo é, por exemplo, aliado do PR, partido fundado por uma poderosa igreja evangélica porque o vice, Alencar, quis.
Outra coisa deprimente que vejo é a maratona que Dilma Roussef faz pelo país elogiando homens como Jáder Barbalho, e se agarrando com todos os religiosos que aparecem na sua frente. Já vimos a Dilma agarrada num casal de pastores que nasceu e renasceu com palácios em Miami. Já vimos a Dilma outro dia quase segurando a corda do Círio em Belém, já vimos a Dilma rezando, contrita, de olhos para o céu.
Por isso eu pergunto: mas... Dilma não era comunista? E os comunistas não acham que a religião é o ópio do povo? O que aconteceu? O que será que Marx diria disso? Ou ela se converteu a Deus, ou ela está enrolando os religiosos.
Eu acho que ela convocou todos os santos para entrar na sua campanha.
Por isso só nos resta dizer: Ó Cristo, olhai para isto.

http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/arnaldo-jabor/2009/10/13/POLITICA-E-A-ARTE-DO-POSSIVEL.htm


Vocabulário:

Eclético – diz-se da pessoa ou obra que trabalha ao mesmo tempo com diversos temas, habilidades ou atividades distintas entre sí.

Polêmico – idéia, atitude, ou obra de impacto, que gera opiniões divergentes sem que se chegue a um consenso.

Ironizar – em linguagem coloquial, zombar. Em linguagem erudita, analisar uma idéia ou atitude de modo a mostrar contradições, resultando na exposição ao ridículo. Na filosofia socrática o conceito assume um sentido mais profundo.

Buchada – prato típico do nordeste brasileiro, composto de estômago (bucho) de bode cozido, recheado com as demais vísceras do animal, devidamente higienizadas, picadas e temperadas. Por utilizar ingredientes rejeitados na cultura culinária de outras regiões, o prato costuma gerar repulsa a paladares não acostumados.
Jabour se refere a um famoso episódio de uma campanha eleitoral passada, na qual o ex-presidente Fernando Henrique, contendo as caretas de repulsa, comeu buchada de bode em público para ganhar popularidade entre os nordestinos.

Palanque – palco, plataforma elevada destinada a um orador.

Sádico – praticante de sadismo, atitude de quem obtem prazer com o sofrimento alheio – origem: Marques de Sade.

Volúpia – prazer sensitivo intenso, prazer carnal.

Baixo calão – grosseiro, obsceno.

A priori – expressão latina que indica a pré-condição de algo, p. ex.: a priori, um triângulo é uma figura de três lados.

Círio – vela grande. No texto, Jabour refere-se à tradicional festa católica do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, que ocorre todo segundo domingo de outubro em Belém do Pará. Reúne milhares de fiéis sendo uma das maiores manifestações católicas do mundo. Nesta festa, entre outros rituais, os fiéis se acotovelam para tocar e puxar uma enorme corda de sisal de 400 m e 700 kg. que antigamente puxava o carro com a imagem de Nsa. Sra. de Nazaré durante a procissão.

Contrita – estar em estado contrição, isto é, arrependida de seus pecados diante de Deus.

Ópio – droga base da morfina, extraída da flor de papoula. Era consumida livremente até o século XIX, sendo servida em casas especializadas, cujos efeitos eram euforia seguida de sono onde ocorriam sonhos extravagantes. A expressão “ópio do povo” foi criada pelo filósofo Karl Marx, que afirmava que a função da religião era a de promover o alívio das tensões sociais, através da promessa de que o sofrimento seria compensado por uma vida melhor no paraíso que viria após a morte física.
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário