
Bem sabemos que o sistema capitalista é cíclico, ou seja, possui seus altos e baixos: momentos de progresso, prosperidade, e momentos de crise.
A Revolução Industrial consolidou o sistema capitalista como imperante na maior parte do mundo, mas fato é que, como todo sistema, o amadurecimento vem com o tempo. Erros são cometidos e aprende-se com eles.
Em 1929, o mundo estava saindo de uma guerra mundial. A destruição do parque industrial europeu transferiu para os Estados Unidos o centro mundial da economia.
Naqueles tempos, obviamente, os meios de comunicação eram bem mais limitados que hoje, o que tornava as decisões mais demoradas, e o mundo "maior".
Os transportes também eram mais limitados, bem como a tecnologia de um modo geral.
As grandes metrópoles do mundo eram crianças surgidas com a revolução industrial - lidar com os problemas de um mundo capitalista recém-surgido, e com as implicações sociais deste fato ainda era uma experiência inédita para nossa civilização. A saúde pública, logística de comércio, transporte, saneamento básico, abastecimento de água, abastecimento de comida, emprego, moradia, criminalidade, a urbanização do mundo com transferência em massa de população do campo para a cidade grande, etc. - imaginem só tudo isso acontecendo ao mesmo tempo e o poder público se esforçando por soluções, pressionado por uma população que se multiplicava como nunca antes tinha acontecido.
Foi neste cenário que na primeira metade do século XX o capitalismo pela primeira vez mostrou a seu lado mais fraco.
A concentração de atividades industriais nos Estados Unidos sem a concorrência dos europeus que estavam reconstruindo seu continente, bem como o crescimento de nações da América Latina e do extremo oriente, favoreceu de sobremaneira o mercado industrial americano.
Investimentos e mais investimentos na produção industrial acabaram por acontecer - a prosperidade era imensa.
Mas bem conhecemos a lei da oferta e da procura: não tardou para a produção, que se multiplicou de sobremaneira, se desvalorizar rapidamente no mercado.
Um erro fatal: a concentração dos investimentos na indústria: nenhum outro setor de mercado, mais protegido, para sustentar as bases da economia.
A crise era inevitável, e nos leva a refletir sobre a controlabilidade da economia.
Em 2008, as coisas eram bem diferentes.
Um mundo "menor" e um tempo "mais curto" devido ao desenvolvimento da tecnologia, especialmente das telecomunicações e às benesses da informática, especialmente a internet.
A falência do socialismo e a extinção das potências concorrentes tornavam o capitalismo um "príncipe debutante"; porém, muitos anos já haviam se passado num século em que a ciência e o conhecimento se multiplicaram e se desenvolveram mais que em milênios anteriores na história da humanidade. Novos padrões e novos valores exigiam do poder público um olhar mais humanitário e menos "financeiro" para os grandes problemas sociais.
O mundo dividiu-se em blocos regionais para administrar suas economias e mesmo desenvolver políticas colaboracionistas com tendência a unificação, para assim fortalecer tais blocos - o capitalismo deixava de ter uma sede única.
As novas tecnologias digitais ofereceram possibilidades nunca antes pensadas, cada vez mais barateadas e, por conseguinte, popularizadas - uma nova cultura, com uma nova concepção de tempo e espaço redesenhava o mundo que se dividiu em dois; não mais a divisão concorrente, mas a divisão colaboracionista: o mundo real e o mundo virtual, a cibercultura.
Nova cultura, nova sociedade, novas necessidades: a administração do capital e o comércio (ou seja, setor de serviços) tornaram-se prioritários à produção - o setor industrial não era mais o "grande imperador" do capitalismo; mais comunicação, mais publicidade, mais diversidade, mais consumo... e veio o erro... CRÉDITO DEMAIS.
Estando a economia prioritariamente nas mãos do capital financeiro, crédito tornou-se ferramenta de lucro fácil; assim, crédito e mais crédito foi oferecido a dois outros setores: produção (indústria), e comércio, além de já estar abusivamente oferecido ao consumidor final. Os investimentos em produção e consumo, bem como salários e receitas, do dia para noite viram-se multiplicados em 10, 20 vezes mais.
Por exemplo, um trabalhador, somando crédito bancário (cartão de crédito, cheque especial, empréstimo consignado etc.) junto com o crédito oferecido pelo comércio (cartões "cliente especial" em lojas de roupas, supermercados, postos de gasolina etc.), tudosustentado obviamente pelo capital financeiro, ou seja, pelos mesmos bancos que já reforçavam artificialmente o poder de compra do assalariado, proporcionaram um endividamento inconsequente do setor produtivo e do consumidor - a inadimplência generalizada foi inevitável - e veio a quebra.
Assim, tivemos o seguinte quadro:
1929:
Causa: superprodução.
Erro: concentração de investimentos num único setor e num único mercado regional.
Consequencias microeconômicas: queda vertiginosa dos preços, desvalorização generalizada e sem controle.
Consequencias macroeconômicas: falência dos mercados produtivos e quebra das bases de comércio internacional.
2008:
Causa: excesso de crédito.
Erro: falta de limites ao capital financeiro (bancos).
Consequencias microeconômicas: elevação do consumo ao ponto de se perder o controle sobre o endividamento.
Consequencias macroeconômicas: quebra das pequenas e médias empresas causadas pela inadimplência. pela falta de políticas de juros que controlasse a ação do capital financeiro até que ele próprio viu-se desvalorizado pela falta de potencial de quitação dos devedores.
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